Corações de Chocolate

sábado, 16 de março de 2024

Re(encontro)começo.

Olá meu amor. Espero que te encontres bem onde quer que estejas. Eu aqui estou, a viver dia após dia, na mesma linha temporal que antes mas uns passos adiante de onde me deixaste. Tentei desvendar diversos caminhos em busca do ideal, mas felizmente a vida entregou-me uma bússola com a direção apropriada. Não sei se aquela rosa dos ventos seria a minha, mas posso dizer que me sinto finalmente confortável desde a tua partida.

Nunca mais foram tempos fáceis, tive que lutar envolta de tsunamis e sobreviver a furacões que a minha mente criava e, no final, sair ilesa. Desvendei mistérios e encruzilhadas para me manter de pé, com o mesmo sorriso de menina teimosa que sempre elogiaste, e nem sempre acreditei sobreviver aos obstáculos que, a cada passo dado, encontrava. Sabes, meu amor, agora talvez faça mais sentido chamar-te meu anjo, não achas? Bem, meu anjo, tenho tanto a dizer-te e ao mesmo tempo não sei bem por onde começar. Mas deixemos esta mudança de nome para uma parte mais final, porque no fundo, as coisas boas nunca vêm primeiro.

Depois de ti não voltei a amar, no fundo, acho que não sei mais o que é sentir aquele turbilhão de borboletas inquietas dentro de mim, que me arrepiava e me deixava em pleno desassossego. Hoje sei que talvez não fosse o mais saudável do mundo, mas aquela ansiedade também me trazia felicidade. A verdade é que, mesmo que alguém me desperte interesse, ninguém és tu. Ninguém me arranca os sorrisos de menina-criança com o seu jeito mimoso, não mais soube o que era ser eu mesma com alguém e poder lutar de punho cerrado pelos meus sonhos com um apoio incondicional por trás. Não voltei a aprender o significado de ter alguém junto a mim que me dê a mão quando o medo e a vertigem me assombram, muito menos o valor que um mero beijo na testa tem no meu íntimo e conforto.

Foram anos difíceis, tentei carregar o teu sonho nas minhas costas e mostrar-te o mundo pelos meus olhos, mas eu não estava feliz e muito menos me sentia completa. No presente, aceito ser incompleta sem ti, mas, meu anjo, não aceito sê-lo sem mim. Desde que partiste que te coloquei diante de mim quanto tu bem sabes, que lutei contra o universo com a minha teimosia de menina mimada como tanta vez me dizias, e te carreguei no meu peito e vivi tudo aquilo que não pudeste. Não foi justo para mim, mas fui eu quem se colocou em tamanha posição. Fui eu quem te prometeu o mundo, quem disse que o conquistaria a teu lado, fui eu quem decidiu que essa promessa teria que continuar. E assim fui, tal e qual passarinho solto que voa em liberdade, rumo a algo tão nosso mas que no fundo era apenas teu. Não te culpo, nunca, em circunstância alguma. No entanto, sei que os teus planos para mim nunca foram que eu seguisse os teus passos. Sabias o quão longe eu ambicionava chegar e nunca fizeste questão de me privar dos meus objetivos em prol dos teus. Quiseste-me, sim, a teu lado quando a tua vida desmoronou e para erguermos os teus sonhos, pedindo-me sempre para continuar a lutar, sem baixar a guarda nem desistir, de conquistar o mundo.

Quase cinco anos que a vida te levou sem uma explicação. Alma velha, dizias. E sabias, bem até demais, que a tua passagem era temporária, só não contava escrever-te hoje, no dia em que completarías mais uma volta ao sol. Sei que estás aqui ao meu lado, a ver-me controlar desesperadamente as lágrimas que teimam em cair enquanto tento transparecer serenidade. Quantas vezes que me pediste para voltar ao mundo das letras e eu teimava em adiar, em dizer ao tempo que não há tempo, mas a verdade é que desde que partiste o tempo não é mais o mesmo. Ambiciono o dia que te vou voltar a abraçar. Será por uma casualidade da vida, numa outra vida, que nos encontraremos e iremos aprender novamente o que é sentir um arrepio frio pelo corpo ao primeiro toque? Ou será por uma casualidade que nos encontramos num café aleatório e sentiremos que já vivemos um grande amor numa outra vida? Será que o deja vú será suficiente para nos voltar a juntar, ou cada um seguirá o seu caminho? Sei que somos a lição um do outro nesta vida, contudo, tenho dúvidas que tenha aprendido o suficiente para não te voltar a encontrar.

Sinto que foi contigo que aprendi a amar mas também a deixar ir, e mesmo depois de me despedir de ti, estou certa que a vida me colocou à prova para ver o quanto me posso amar a mim mesma. Como já referi, mostrei-te o teu sonho pelos meus olhos, tentei vivê-lo ainda que nunca da mesma forma que tu o farias. No entanto, agora mostro-te o meu sonho, desde que me lembro e desde que me conheceste. Sempre disseste que eu era mimada e conseguia tudo na vida, mas no fundo sabias o quanto eu luto por tudo aquilo que pretendo atingir. E eu sei, meu anjo, o tamanho orgulho que sentias por eu ser a força que sou perante as adversidades da vida. Espero que continues orgulhoso de mim, como quando me olhavas e me pedias para não desistir. Quero que saibas que, apesar de ter deixado o teu sonho para trás, estou a seguir o meu. E estou certa que no dia que me visitaste, num daqueles nossos encontros noturnos, me agradeceste por te manter vivo e me pediste para não me deixar morrer no processo. Como dona da teimosia que reina sem olhar para os lados, não quis desistir de ti e, enquanto eu viver, não o farei, no entanto, sempre foste o meu porto de abrigo e rosa dos ventos, e não te poderia desiludir.

Não estou magoada contigo, nem com a minha decisão. Coloquei a armadura, a capa de super heroína, parei o tempo, estalei os dedos e não mais me reconheço. Cresci tanto neste processo em que me foquei apenas em mim, tal e qual egocêntrica que não vê além de si mesma, que não mais quero voltar atrás. Estou-te grata, meu amor, por seres o anjo que me visita e me indica o caminho, que não só me desvia os obstáculos como também me desafia para ter a certeza que a minha força é inabalável. Não voltei a amar. E, talvez, o tanto que me foco em mim, seja a razão. Quero e vou-te amar para sempre. Estás num patamar inatingível como te disse antes. Mas foste a minha lição para crescer. Foste quem veio, me deu tudo e me deixou sem chão. Sabes, às vezes, só às vezes, sinto falta de alguém a meu lado, que venha para ficar e me faça sentir como tu fazias. No entanto, sei que não o posso pedir quando eu mesma não permito abrir o cadeado que a vida colocou ao redor do meu coração. Sim, meu anjo, o gelo derreteu, a pedra partiu, mas o cadeado foi ficando. Talvez me tenha deixado mais doce para com a vida, mais sensível para com o mundo, mas não me permitiu voltar a amar. Para ser sincera, compreendo que assim seja. Dediquei-me a construir um futuro que poucos compreendem e não vou permitir que ninguém me desvie do caminho, da mesma forma que não é justo pedir a alguém que mova montanhas por mim. Egocêntrica um pouco, egoísta sabes que nunca o serei. Muito menos irei perder a empatia que me caracteriza.

Entendo a vida de uma forma tão diferente e tão minha depois de todos estes anos. Tiraste-me o chão, vezes sem conta até eu decidir que queria um chão só meu. E, mesmo assim, a vida obrigou-me a ter asas para sobreviver. Fui passarinho de gaiola durante muito tempo, presa a memórias e vivências, com objetivos que me impediam de ser eu mesma. E agora, meu anjo, sei que és o meu anjo, porque no dia em que me visitaste, também me abriste a gaiola e me obrigaste a usar as asas enferrujadas pela poeira e a voar. Abriste-me a porta para o mundo e disseste-me que estarias a meu lado ainda assim, a voar junto a mim. E, nesse dia, eu decidi voar. E soube tão bem. Sinto-me tão plena, meu amor. Sinto-me a conquistar a minha essência a cada dia e a batalhar por um futuro que me caracteriza ao detalhe. Sinto-me uma flor na sua primeira primavera, que sobreviveu aos invernos mais sombrios, que desistiu de ser uma semente sem rumo para ganhar raízes fortes que a farão encarar tudo o que estará por vir.

Já não suplico pela tua presença, porque sei que estarás a meu lado nas minhas grandes conquistas para me aplaudires de pé. Já não te chamo quando o medo do escuro me atormenta, porque estou segura que estás diante de mim a lutar contra os demónios que teimam em travar-me. Estamos tão distantes quanto o céu e o mar, mas confio que estás a lutar comigo tal e qual os raios de sol quando tocam as ondas cintilantes. É difícil voltar a escrever para ti quando passou tanto tempo, meu amor. Mas hoje é especial. Hoje faz parte do meu recomeço de há uns meses (talvez seja um recomeço 2.0?). Hoje é o teu dia e o céu está em festa, consigo ver as estrelas a dançar e uma em particular que brilha mais que todas as outras, que estou segura que serás tu. A estrela mais brilhante e mais bonita. Não apenas hoje, mas sempre. Hoje é o nosso reencontro neste cantinho. Se tiveres um momento (que eu sei o quão trabalhoso é estar a meu lado), visita-me. A última vez que nos encontramos tomei as decisões mais importantes que me fizeram recomeçar. Mas não precisa de ser sempre assim. Podes visitar-me apenas para me dizeres como estás. Podes dizer-me o quão difícil é lidar comigo nessa tua perspectiva. Por favor, só te peço que, ao meu visitares, me dês um abraço daqueles bem longos que sei que me confortará por meses. Prometo ficar feliz, contudo, não prometo não chorar. As saudades do teu toque assombram-me e saber que, mesmo que em sonhos, te posso sentir, deixa-me inquieta.

Mesmo que seja um placebo, há dias que só gostava de sentir o teu beijo na minha testa, de ver e ouvir o teu sorriso, mas acima de tudo, de sentir o conforto dos teus braços. Se não for pedir muito, volta. Uma noite destas, volta. Liberta em mim a quantidade de serotonina necessária para mais uns meses de lutas, apazigua os meus medos, e dá-em forças para continuar neste meu recomeço. Reencontra-me e fica a meu lado para (re)começar novas batalhas. Mas, acima de tudo, não me abandones. Posso ter deixado o teu sonho de lado para viver o meu, mas tu estarás, para sempre, em mim tal e qual as nossas tatuagens na minha pele. Meu anjo, poderia continuar a escrever-te por uma eternidade e mais um pouco, mas não te ocupo mais tempo. Estejas onde estiveres, estou orgulhosa de ti. Muitos parabéns, meu amor. Amo-te, para sempre.